Transição energética, como são os impactos da energia nos inventários de carbono?

Segundo estudo divulgado pela revista The BMJ, a poluição gerada pelos combustíveis fósseis é responsável por 5,1 milhões de mortes a mais por ano em todo o mundo. Essa quantidade representa 61% de um total estimado de 8,3 milhões de óbitos no planeta devido a resíduos na atmosfera, em 2019.

É por isso que a transição energética é um movimento global rumo à adoção de fontes de energia mais limpas e renováveis para substituir os combustíveis fósseis. Esse processo é crucial para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a mitigação das mudanças climáticas.

Neste artigo, vamos explorar como a energia impacta os inventários de carbono das empresas e a importância da transição energética para alcançar metas de sustentabilidade.

O Papel da energia nos Inventários de Gases de Efeito Estufa

Emissões de Escopo 1, 2 e 3

Nos inventários de carbono, as emissões são classificadas em três categorias principais:

  • Escopo 1: Emissões diretas de fontes controladas pela empresa, como a combustão de combustíveis fósseis em veículos e processos industriais;

  • Escopo 2: Emissões indiretas da geração de eletricidade, vapor, aquecimento e resfriamento adquiridos e consumidos pela empresa;

  • Escopo 3: Emissões indiretas que ocorrem na cadeia de valor da empresa, incluindo transporte, viagens de negócios, e produção de bens e serviços adquiridos.

Impacto da energia nas emissões

A energia é um componente significativo nos inventários de carbono devido ao seu uso extensivo em operações empresariais. A queima de combustíveis fósseis para geração de eletricidade e calor é uma das principais fontes de emissões de GEE. Empresas que dependem fortemente de fontes de energia não renováveis tendem a ter inventários de carbono mais elevados.

De acordo com dados do SEEG, o Brasil emitiu 2,2 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa (GEE) só em 2019. O setor de Energia foi responsável por 19% dessas emissões. Um dado mais recente, da KPMG, coloca o Brasil em 18o lugar dentre um ranking com 25 países com melhor desempenho na corrida para ser net zero.

Transição energética e redução de emissões

Adoção de energias renováveis

A transição energética envolve a substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis, como solar, eólica, hidrelétrica e biomassa. A adoção dessas fontes de energia pode reduzir significativamente as emissões de Escopo 2, contribuindo para a diminuição da pegada de carbono da empresa.

O Governo deu um passo importante no estímulo a essa prática em âmbito geral: o Projeto de Lei 752/24, que está em análise pela Câmara dos Deputados, propõe que seja permitido aos contribuintes deduzir da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) os gastos realizados com equipamentos voltados para a geração de energia elétrica através de fontes renováveis.

Eficiência energética

Investir em eficiência energética é outra estratégia crucial. Melhorar a eficiência dos equipamentos, processos e edificações reduz o consumo de energia, resultando em menores emissões de GEE.

Medidas como a modernização de sistemas de iluminação, climatização e automação de processos industriais são exemplos práticos.

Compensação de carbono

Segundo dados do Banco Mundial, o Brasil é um dos países que mais reduzem emissões devido ao seu setor de energia renovável e projetos de reflorestamento. Mas, para as emissões que não podem ser eliminadas completamente, as empresas podem investir em projetos de compensação de carbono. Esses projetos envolvem a captura ou redução de emissões em outras áreas, como reflorestamento e tecnologia de captura e armazenamento de carbono (CCS).

Utilização de RECs e I-RECS

Além dos projetos de reflorestamento e CCS, as empresas podem utilizar os Certificados de Energia Renovável (RECs) e os Certificados Internacionais de Energia Renovável (I-RECS) para compensar suas emissões de escopo 2. Ao adquirir esses certificados, uma empresa demonstra seu compromisso com a energia limpa e financia a geração de energia renovável em outras localidades.

Os RECs e I-RECS representam a energia elétrica gerada a partir de fontes renováveis, como a solar, eólica e hidrelétrica. Ao comprar um REC, a empresa está adquirindo os atributos ambientais dessa energia, como a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Benefícios da Adoção de RECs e I-RECS:

  • Baixo carbono ou até carbono neutro: acelera o processo de neutralização das emissões de carbono;

  • Flexibilidade: permite compensar as emissões de diferentes fontes;

  • Melhoria da imagem: demonstra o compromisso com a sustentabilidade;

  • Conformidade regulatória: contribui para o cumprimento de metas e regulamentações ambientais.

Benefícios da transição energética

Redução de custos operacionais

Embora a transição energética possa exigir investimentos iniciais significativos, a longo prazo, ela pode resultar em economias operacionais. Fontes de energia renováveis, como a solar e eólica, possuem custos operacionais mais baixos comparados aos combustíveis fósseis.

Conformidade regulamentar

Com a crescente pressão regulatória para reduzir emissões de GEE, a transição energética ajuda as empresas a se manterem em conformidade com as normas ambientais. Isso evita multas e sanções, além de proporcionar acesso a incentivos fiscais e subsídios governamentais.

Reputação e vantagem competitiva

Empresas que adotam práticas sustentáveis e investem em energia limpa melhoram sua reputação junto a consumidores, investidores e outros stakeholders. A responsabilidade ambiental pode diferenciar a empresa no mercado, atraindo clientes e oportunidades de negócios.

Desafios na implementação da transição energética

A transição para fontes de energia renováveis e tecnologias eficientes pode requerer investimentos substanciais. No entanto, os benefícios a longo prazo muitas vezes superam os custos iniciais.

A implementação também pode exigir mudanças significativas na infraestrutura existente. Além disso, a disponibilidade de tecnologias renováveis pode variar dependendo da localização geográfica e das condições climáticas.

Para isso, é essencial contar com uma gestão eficaz de mudanças para garantir que todos os funcionários e partes interessadas estejam alinhados com os novos objetivos e práticas. Isso pode incluir treinamento, comunicação e desenvolvimento de uma cultura organizacional voltada para a sustentabilidade.

A transição energética é essencial para reduzir as emissões de GEE e mitigar os impactos das mudanças climáticas. Ao adotar fontes de energia renováveis, melhorar a eficiência energética e investir em projetos de compensação de carbono, as empresas podem transformar seus inventários de carbono em ferramentas eficazes para descarbonização. Embora existam desafios, os benefícios econômicos, regulatórios e reputacionais tornam essa transição uma estratégia crucial para um futuro sustentável.

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